A descoberta está localizada na estrada que leva à sede da comunidade quilombola. Trata-se de um afloramento rochoso que faz conexão entre a ciência e a ancestralidade. O conjunto de rochas identificado conta a história da colisão África- América do Sul e da separação que ocorreu posteriormente.
A descoberta se deu em uma das visitas técnicas realizadas a convite da Secretaria de Cultura e Patrimônio Histórico de Armação dos Búzios. Visitas como esta têm entre os objetivos a identificação de locais geológicos com importância patrimonial e a secretaria está atuando para salvaguardar a história narrada pelo povo buziano, que também se faz presente na paisagem, rochas, monumentos e costumes que constituem a herança e precisa ser preservada para as futuras gerações.
O Secretário de Cultura e Patrimônio Histórico de Búzios, Romano Lorenzi destacou que esta descoberta tem uma importância não apenas para a cidade de Búzios e sua cultura, mas também para toda uma comunidade científica e de pesquisa. “As rochas narram a ação do tempo e a rocha que foi encontrada em Búzios narra esse momento da divisão dos continentes, é um pedaço da África, da africanidade dentro de Armação dos Búzios e, por providência divina, essa africanidade está presente no território quilombola de Baía Formosa, que são os remanescentes africanos que foram escravizados e que carregam toda essa ancestralidade”, disse o secretário.
Ainda de acordo com Romano, a presença dessa rocha é muito importante e por isso precisa ser estudada e catalogada. E a partir daí surgiu a ideia de projeto ainda em fase inicial por meio da Secretaria de Cultura e Patrimônio para catalogar as rochas culturais, os pesqueiros e esses acidentes geográficos tão importantes que fazem parte da identidade buziana. Ele ainda ressaltou que rocha encontrada no quilombo de Baía Formosa está em Búzios, mas pertence ao mundo.
De acordo com a geóloga Kátia Mansur, essas rochas africanas com dois bilhões de anos colidiram há aproximadamente 500 milhões de anos. Depois, foram separadas vulcanicamente há 130 milhões de anos e deixaram aqui uma parte dessa África geológica, que, muito tempo depois receberia africanos escravizados cujos seus descendentes hoje lutam pelo reconhecimento de sua cultura.
Ainda de acordo com Kátia, existem outros pontos semelhantes na região, porém, dentro do território quilombola de Baía Formosa, ainda não havia tido tal observação. “É visível esta relação de união e separação continental, relação África – Brasil, Ciência – Ancestralidade em um único lugar. Entendemos que esta pode ser mais uma das pedras culturais, entre tantas outras que precisamos tornar visíveis aos visitantes de Búzios. Este reconhecimento cultural precisa ser destacado sob pena de perdermos lugares tão únicos em nome de um processo destruidor que alguns chamam de desenvolvimento e que vem sendo levado a cabo há décadas na região”, disse ela.